17 de dez. de 2009

Educação Inclusiva




COMPORTAMENTOS INCLUSIVOS
DIANTE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Romeu Kazumi Sassaki
São Paulo, dezembro de 2005


Evidências no dia-a-dia nos mostram que existe um interesse, cada vez mais generalizado dentro da população, em conhecer e relacionar-se corretamente com as pessoas que têm uma deficiência.

Palestras, cursos, campanhas, livros, folhetos, revistas – em todas as partes da sociedade constatamos mensagens escritas, faladas, desenhadas e dramatizadas ensinando as formas corretas de se interagir com pessoas cuja deficiência é bastante variada e cuja presença é notada com mais freqüência a cada dia que passa.

Neste artigo, apresento uma síntese desses comportamentos inclusivos diante de pessoas com deficiência, parte deles transcrita e/ou adaptada de inúmeros textos publicados (ver Bibliografia consultada) e parte aprendida em minha experiência profissional dentro do campo da reabilitação profissional, bem como em minha atuação no movimento de direitos, nos últimos 45 anos.

Dicas gerais diante de uma pessoa com qualquer tipo de deficiência
ü Converse com ela respeitosamente, sabendo que ambos desejam ser respeitados como seres humanos.
ü Comporte-se de igual para igual, ou seja, considerando que vocês dois possuem a mesma dignidade.
ü Aceite a outra pessoa como ela é, assim como você espera ser aceito do jeito que você é.
ü Ofereça ajuda sempre que notar que a pessoa parece necessitá-la. Pergunte antes de ajudar e jamais insista em ajudar. Se ela aceitar a ajuda, deixe que ela lhe diga como quer ser ajudada.
ü Lembre-se de que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos garantidos a todos os povos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição de cada país.
Diante de uma pessoa com deficiência física

1. Que usa cadeira de rodas
ü Não se apóie na cadeira de rodas, nem com as mãos nem com os pés. A cadeira de rodas é uma extensão do corpo da pessoa que a utiliza.
ü Não receie em falar as palavras “ande”, “corra” e “caminhe”. As próprias pessoas com deficiência física também as utilizam.
ü Se a conversa for demorar, sente-se num banco ou sofá de modo que seus olhos fiquem no mesmo nível do olhar da pessoa em cadeira de rodas. Para uma pessoa sentada, não é confortável ficar olhando para cima durante um período relativamente longo.
ü Ao ajudar uma pessoa em cadeira de rodas a descer uma rampa ou degraus, use a marcha à ré, para evitar que, pela excessiva inclinação, a pessoa perca o equilíbrio e caia para frente.
ü Ande na mesma velocidade do movimento da cadeira de rodas.
ü Ao planejar eventos, providencie acessibilidade arquitetônica em todos os recintos.

2. Que usa muletas
ü Tome cuidado para não tropeçar nas muletas.
ü Ao acomodar as muletas, após a pessoa sentar-se, deixe-as sempre ao alcance das mãos dela.
ü Ande no mesmo ritmo da marcha da pessoa.

3. Que tenha necessidade especial no uso dos braços e mãos e do corpo em geral
ü Siga as cinco dicas gerais, acima indicadas.
ü Esteja atento às particularidades de cada tipo de deficiência física.

Diante de uma pessoa com deficiência visual

1. Pessoa cega
ü Se andar com uma pessoa cega, deixe que ela segure seu braço. Não a empurre; pelo movimento de seu corpo, ela saberá o que fazer.
ü Em lugares estreitos para duas pessoas caminharem, ponha o seu braço para trás de modo que a pessoa cega possa seguir você.
ü Se estiver com ela durante a refeição, pergunte-lhe se quer auxílio para cortar a carne, o frango ou para adoçar o café, e explique-lhe a posição dos alimentos no prato.
ü Num restaurante, é de boa educação que você leia o cardápio e os preços, se a pessoa cega assim o desejar.
ü Se for auxiliar a pessoa cega a atravessar a rua, pergunte-lhe antes se ela necessita de ajuda e, em caso positivo, atravesse-a em linha reta, senão ela poderá perder a orientação.
ü Se ela estiver sozinha, identifique-se sempre ao aproximar-se dela. Nunca empregue brincadeirinhas como: “Adivinha quem é?”.
ü Se for orientá-la a sentar-se, coloque a mão da pessoa cega sobre o braço ou encosto da cadeira, e ela será capaz de sentar-se facilmente.
ü Se observar aspectos inadequados quanto à aparência da pessoa cega (meias trocadas, roupas pelo avesso, zíper aberto etc.), não tenha receio de avisá-la discretamente a respeito de sua roupa.
ü Se conviver com uma pessoa cega, nunca deixe uma porta entreaberta. As portas devem estar totalmente abertas ou completamente fechadas. Conserve os corredores livres de obstáculos. Avise-a se a mobília for mudada de lugar.
ü Se você trabalha, estuda ou está em contato social com uma pessoa cega, não a exclua nem minimize a participação dela em eventos ou reuniões. Deixe que a pessoa cega decida sobre tal participação. Trate-a com o mesmo respeito que você demonstra ao tratar uma pessoa que enxerga.
ü Se for orientá-la, dê direções do modo mais claro possível. Diga “direita”, “esquerda”, “acima”, “abaixo”, “para frente” ou “para trás”, de acordo com o caminho que ela necessite percorrer. Nunca use termos como “ali”, “lá”.
ü Indique as distâncias em metros. Por exemplo: “Uns 10 metros para frente”.
ü Se for a um lugar desconhecido para a pessoa cega, diga-lhe, muito discretamente, onde as coisas estão distribuídas no ambiente, os degraus, meios-fios etc.
ü Se vocês estiverem numa festa, diga à pessoa cega quais as pessoas presentes e veja se ela encontra pessoas para conversar, de modo que se divirta tanto quanto você.
ü Se for apresentá-la a alguém, faça com que ela fique de frente para a pessoa a quem você está apresentando, impedindo que a pessoa cega estenda a mão, por exemplo, para o lado contrário em que se encontra a outra pessoa.
ü Se conversar com uma pessoa cega, fale sempre diretamente, e nunca por intermédio de seu companheiro. A pessoa cega pode ouvir tão bem ou melhor que você. Não evite as palavras “veja”, “olhe” e “cego”; use-as sem receio. As pessoas cegas também as usam.
ü Quando se afastar da pessoa cega, avise-a, para que ela não fique falando sozinha.
ü A pessoa cega não vive num mundo escuro e sombrio. Ela percebe coisas e ambientes e adquire informações através do tato, da audição e do olfato. Ela pode ler e escrever por meio do braile.
ü O computador também é um bom aliado, possibilitando à pessoa cega escrever e conferir os textos, ler jornais e revistas, via internet ou livro digitalizado, usando programas específicos (DosVox, Virtual Vision, Jaws, por exemplo) nos quais se fala o que está escrito na tela.
ü Com a bengala ou com o cão-guia, a pessoa cega pode caminhar com autonomia, identificando ou desviando-se de degraus, buracos, meio-fio, raízes de árvores, orelhão, postes, objetos protuberantes nos quais ela possa bater a cabeça etc. O cão-guia nunca deverá ser distraído do seu dever de guiar a pessoa cega.
ü Ao planejar eventos, providencie material em braile.

2. Pessoa com baixa visão
ü Ao se tratar de pessoa com baixa visão, proceda quase das mesmas formas acima indicadas.
ü Ao planejar eventos, providencie material impresso com letras ampliadas.

3. Pessoa surdo cega
ü Em geral, a pessoa com surdo cegueira está acompanhada de um guia-intérprete, que utiliza diversos recursos de comunicação como, por exemplo, a libras tátil (libras na palma das mãos) ou o tadoma (pessoa surdo cega coloca a mão no rosto do guia-intérprete, com o polegar tocando suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente as dobras vocais). Assim, pela vibração das dobras vocais, ela consegue entender o que a outra pessoa está falando. Há pessoas surdas cegas que apenas não ouvem, mas falam; portanto, ela pode “ouvir” pelo tadoma e falar com a própria voz. Quando entrar numa conversa com uma pessoa surda cega, que utiliza o tadoma deixe que ela faça o mesmo com você.

Diante de uma pessoa com deficiência auditiva

1. Pessoa surda
ü Se quiser falar com uma pessoa surda, sinalize com a mão ou tocando no braço dela. Enquanto estiverem conversando, fique de frente para ela, mantenha contato visual e cuide para que ela possa ver a sua boca para ler os seus lábios. Se você olhar para o outro lado, ela pode pensar que a conversa terminou.
ü Não grite. Ela não ouvirá o grito e verá em você uma fisionomia agressiva.
ü Se tiver dificuldade para entender o que uma pessoa surda está dizendo, peça que ela repita ou escreva.
ü Fale normalmente, a não ser que ela peça para você falar mais devagar.
ü Seja expressivo. A pessoa surda não pode ouvir as mudanças de tom da sua voz, por exemplo, indicando gozação ou seriedade. É preciso que você lhe mostre isso através da sua expressão facial, gestos ou dos movimentos do corpo para ela entender o que você quer comunicar.
ü Em geral, pessoas surdas preferem ser chamadas “surdos” e não “deficientes auditivos”.
ü Se a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete da língua de sinais, fale olhando para ela e não para o intérprete.
ü É muito grosseiro passar por entre duas pessoas que estão se comunicando através da língua de sinais, pois isto atrapalha ou impede a conversa.
ü Se aprender a língua de sinais brasileira (libras), você estará facilitando a convivência com a pessoa surda.
ü Ao planejar um evento, providencie avisos visuais, materiais impressos e intérpretes da língua de sinais.

2. Pessoa com baixa audição
ü Ao se tratar de pessoa com baixa audição, proceda quase das mesmas formas indicadas para relacionar-se com pessoas surdas.
ü Em geral, as pessoas com baixa audição não gostam de ser chamadas “surdos” e sim “deficientes auditivos”.

Diante de uma pessoa com deficiência da fala
ü Existem diversas alterações de fala, variando desde as mais simples, como a dificuldade em pronunciar os sons de maneira correta, até as mais complexas, como a perda total da voz, as gagueiras mais graves e os transtornos causados por um problema neurológico, que podem prejudicar tanto a fala como a compreensão.
ü Todas estas alterações podem trazer um prejuízo ou até mesmo um impedimento para a comunicação oral.
ü Mantenha a calma quando falar com alguém que apresenta alguma dificuldade de comunicação oral. Não tente adivinhar o que ela quer dizer e não a deixe sem resposta.
ü Procure olhar no rosto de quem fala; fale pausadamente; use poucas palavras de cada vez; espere a sua vez de falar e só comece quando tiver certeza de que o outro terminou o que tinha a dizer.
ü Se não entendeu o que foi falado, não tenha receio de pedir que o outro repita ou escreva. A maior parte das pessoas com dificuldade na fala tem consciência disso e não se incomoda em repetir, desde que encontre alguém realmente interessado em ouvi-la.
ü Preste mais atenção no conteúdo da fala do que em sua forma e, principalmente, não discrimine alguém pela maneira dele de falar.

Diante de uma pessoa com deficiência intelectual
ü Ao dirigir-se a uma pessoa com deficiência intelectual, aja com naturalidade, como você faria com qualquer outra pessoa.
ü Não confunda “deficiência intelectual” (deficiência mental) com “transtorno mental” (doença mental).
ü A pessoa com deficiência intelectual é, em geral, muito carinhosa e disposta a conversar.
ü Procure dar-lhe atenção e tratá-la de acordo com a faixa etária: criança, adolescente, adulta.
ü Não a ignore durante conversação. Cumprimente-a e despeça-se dela, como você o faria com outras pessoas.
ü Não a superproteja, nem use linguagem infantilizada.
ü Deixe que ela tente fazer sozinha tudo o que ela puder. Ajude apenas quando for realmente necessário.
ü Entenda que a pessoa com deficiência intelectual aprende mais lentamente. Se você respeitar o ritmo dela e lhe oferecer oportunidade, ela pode desenvolver habilidades, tornar-se produtiva e participar do mundo com dignidade e competência.

Diante de uma pessoa com outras deficiências
ü Existem pessoas que apresentam uma deficiência que não foi mencionada até aqui. Por exemplo, a deficiência múltipla, que se caracteriza pela presença simultânea de dois ou mais tipos de deficiência acima citados.
ü Também existem pessoas com paralisia cerebral, com síndrome de Down, com hiperatividade, com ostomia, com dislexia e assim por diante. Mas, paralisia cerebral, síndromes diversas, hiperatividade, ostomia, dislexia etc. não são tipos de deficiência; são condições que acarretam alguma deficiência.
ü Por outro lado, existem pessoas com epilepsia, com hanseníase, com transtorno mental, com autismo, com transtorno de déficit de atenção (TDA) etc. Porém, epilepsia, hanseníase, transtorno mental, autismo, TDA etc. também não constituem tipos de deficiência; são doenças que podem acarretar alguma deficiência.
ü Há casos em que uma doença e uma condição estão presentes juntas. Por exemplo, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
ü Podemos, então, comportar-nos diante de uma pessoa com deficiência resultante dessas condições ou doenças, seguindo todas as dicas gerais e algumas das dicas específicas, de acordo com cada caso.
ü A questão das condições e doenças como causas de deficiências é polêmica e não encontra um consenso entre especialistas. Por exemplo, a ostomia e a paralisia cerebral foram colocadas como formas de deficiência física, e não como causas, no Decreto nº 5.296, de 2/12/04.


Bibliografia consultada

AGETRAN/SAS. Alerta ao cidadão (cartilha “Viva Seu Bairro – Projeto Multissetorial Integrado”). Campo Grande: Agência Municipal de Transporte e Trânsito / Secretaria Municipal de Assistência Social, c.2005.
BRASIL. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 (Lei da Acessibilidade).
CAPOVILLA, F. C., & RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da língua de sinais brasileira. São Paulo, SP: Edusp, 2001. E-mail: capovila@usp.br.
CEPRED. Como você deve se comportar diante de uma pessoa que... Salvador, BA: Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação de Deficiências, c.2004 (folheto adaptado do livreto Handicapés, escrito pelo Movimento de Mulheres Jovens, de Paris, em 16/11/82). E-mail: cepred@saude.ba.gov.br.
CLEMENTE, Carlos Aparício. Conviva com a diferença. Osasco: Espaço da Cidadania, 2003 (cartilha disponível em http://ecidadania.cjb.net/, e-mail: espaco.cidadania@ig.com.br).
CJGG. Manual para inclusão social das pessoas portadoras de deficiência. Planaltina, DF: Comissão Jovem Gente como a Gente, 2000 (folheto adaptado do livreto Handicapés, escrito pelo Movimento de Mulheres Jovens, de Paris, em 16/11/82). E-mail: http://br.f381.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=comissão.jovem@zaz.com.br
DUTRA, Luiz Carlos. Pastoral da inclusão: pessoas com deficiência na comunidade cristã. São Paulo: Loyola, 2005.
FDNC. O que você pode fazer quando encontrar uma pessoa cega. São Paulo: Fundação Dorina Nowill para Cegos, c.2005 (folheto). Site: http://www.fundacaodorina.org.br/, e-mail: info@fundacaodorina.org.br.
SASSAKI, R. K. Atualizações semânticas na inclusão de pessoas: deficiência mental ou intelectual? Doença ou transtorno mental? Jornal do Sinepe-RJ, ano XIV, n. 88, jul./set. 2005, p. 10-11 e Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano V, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6-9.
_____. Nomenclatura na área da surdez. São Paulo, 2004. (texto não-publicado disponível pelo e-mail: romeukf@uol.com.br).
_____. Como chamar as pessoas que têm deficiência. In: Vida Independente. São Paulo: RNR, 2003, p. 12-15.
_____. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. In: Mídia e deficiência, Brasília: Agência de Notícias dos Direitos da Infância e Fundação Banco do Brasil, 2003, p. 160-165.
_____. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano V, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6-9.
SEAD. Dicas para conviver valorizando as diferenças. Recife: Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência / Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social, c.2003 (folheto disponível pelo e-mail: sead@fisepe.pe.gov.br).


* Recebido do Grupo do Google *

Um comentário:

  1. educação inclusiva
    nao é facil
    mas é possivel
    é um trabalho de todos
    famialia e escola
    um super bjão lindaaaa

    ResponderExcluir

 
© Copyright 2009-Reneide Soares. All rights reserved