10 de jul. de 2010

Aprender sem Medo

Aprender sem medo: o relacionamento afetivo entre aquele que ensina e aquele que aprende
Ana Maria Fernandes Tucci de Carvalho


O movimento de Educação Matemática trouxe ao ensino dessa disciplina muitas descobertas, novos desafios e novas perspectivas sobre o que é o aprender matemático, como este aprender acontece e como as diversas pessoas envolvidas - professores, alunos, pais, diretores esolares - relacionam-se e encaram novas possibilidades.

Mesmo diante do fato de que os resultados afetivos, procedentes da metacognição e da dimensão afetiva dos alunos e professores interferem e podem determinar a qualidade da aprendizagem, estes fatores foram, muito tempo, ignorados.

No final da década de oitenta durante os anos noventa, esse quadro sofreu profundas alterações, principalmente, influenciado pelos trabalhos do educador matemático MC Leod (1988; 1989; 1992) que mostraram a influência dos aspectos afetivos no processo educacional, determinando que as questões afetivas têm um papel crucial no ensino e na aprendizagem de Matemática.

Algumas questões passaram a ser consideradas mais atentamente:

  • O que é a dimensão afetiva em Matemática?
  • Qual o significado dos afetos em Matemática?
  • Há algum tipo de ensino melhor do ponto de vista da dimensão afetiva?
  • Qual o papel do professor nesta dimensão?

O domínio afetivo

Não há definição clara sobre o que é afeto ou dominio afetivo. De fato, definir claramente o afeto seria inserir uma racionalidade no emocional. Para Chacón (2003), a definição mais utilizada é a de equipe de educadores de taxonomia dos objetivos da educação, que aceita como domínio afetivo tudo o que se refere ao âmbito da afetividade. Nesta definição, estão inclusas as crenças, atitudes, considerações, gosto e preferências, emoções, sentimento e valores.

McLeod (1989) toma o termo "afeto" de maneira geral e usa a expressão "domínio afetivo" para se referir a um conjunto extenso e não bem delimitado de sentimentos e de humor (estado de ânimo) que diferem da pura cognição.
Os descritores do domínio afetivo são as crenças, as atitudes e as emoções.

As crenças

As crenças matemáticas fazem parte do domínio subjetivo e estão ao redor de todos os que são relacionados com a Matemática, seu aprendizado e seu ensino: porfessores, alunos e pais.

Considera-se que há fatores consciente e incosncientes atuando no estabelecimento das crenças que os sujeitos fazem, sendo que os fatores inconscientes parecem mais relevantes no domínio afetivo, por serem mais complexos e marcantes ao sujeito.

As crenças do estudante são classificados em crenças sobre a Matemática (sobre objeto); sobre si mesmo, sobre o ensino da Matemática e sobre o meio no qual a educação matemática acontece (contexto social e cultural). (MCLEOD, 1992).São consideradas crenças sobre a Matemática como disciplina (os alunos desenvolvem) e crenças dos estudantes (e do professor) sobre si mesmos e sua relação com a Matemática. Este último eixo possui um forte componente afetivo, incluindo crenças relativas à autoconfiança, ao autoconceito e às causas do sucesso ou fracasso escolar. São crenças relacionadas à noção de metacognição e autoconsciência.

As atitudes

A atitude é considerada como pré-avaliação (positiva e negativa) que determina as intenções pessoais e influi no comportamento. (HART, 1989). A atitude constitui-se de três componentes: um cognitivo, que se manifesta nas crenças implícita; um afetivo, que se manifesta na aceitação ou repúdio das tarefas propostas ou da matéria; e um intencional, que representa a tendência a um certo tipo de comportamento.

Se o objetivo em questão é a Matemática, duas grandes categorias são distinguidas (CHACÓN, 2003).

  • as atitudes em relação a Matemática;
  • atitudes matemáticas.
As atitudes em relação à Matemática referem-se ao destaque dado à disciplina, bem como ai interesse por essa matéria e ao seu aprendizado. O aspecto afetivo é central nestas questões e, usualmente, mais intenso do que o cognitivo. O afetivo manifesta-se em termos de interesse, curiosidade, respeito pelo professor, satisfação, angústia, medo, tédio, pressa e ansiedade.

As atitudes matemáticas, ao contrário, restringem-se aos aspectos cognitivos e referem-se ao modo de se utilizar capacidades gerais como felxibilidade e agilidade de pensamentos, espírito crítico, objetividade, generalização etc.

As atitudes não se restringem ao campo consciente, muitas delas, ao contrário, pertencem à ordem do inconsciente e podem ser encaradas sob a forma de perspectiva psicanalítica.

O papel do professor e as sua atitudes: aspectos inconscientes
Ao mostrar que os fenômenos da sala de aula envolvem aspectos subjetivos, ou seja, referem-se aos fatores humanos muito mais do que aos técnicos, o paradigma da Psicanálise abre um camimho novo e frutífero aos professores, o da busca pela compreensão dos desejos, de boas relações do indivíduo consigo mesmo e com o outro. Mais preocupação com as pessoas, apresenta-se como uma forma mais humanitária, considerando os fatores culturais e sociais.

Blanchard-Laville (1992) explora idéias da Psicanálise, que aborda fatores da ordem do inconsciente, visando a aplicação para o tratamento dos professores de Matemática. A autora está preocupada com a pesquisa de metodologias para ajudar os professores e melhorar a prática efetiva e a busca uma compreensão de suas atitudes em sala de aula. Baseadas nas próprias experiências, percebeu aspectos de dimensão psíquica e de realções humans presentes em classe, considerando que professores e alunos são, antes de mais nada, seres humanos.

A autora caracteriza o professor como líder de sala, aquele que é responsável pela atmosfera, pelo ambiente criado, no qual a reação dos alunos diante de determinada circusntâncias é mais conseqüência das atitudes do porfessor do que apropriadamente pertencente aos alunos.

Explorando os processos subjetivos inerentes à sala de aula, tomados por meio da centralidade da figura do professor que, por intermédio da linguagem e de atitudes faz suas colocações, defende que esse profissional sofre diversos tipos de pressões ou tensões internas. Para Blanchard-Laville, o professor impõe a si mesmo ou, ainda, seu inconscientes impõe diversos tipos de pressões internas, mesmo que ele não tenha pleno conhecimento (consciente) disto, o que me Psicanálise é chamado de repetições compulsivas.

O professor sofre, desta maneira, grande influência sobre as decisões e escolha que toma diante das diversas situações vivenciadas em sala. A elaboração de uma análise interna do sujeito, visando modificar as condições psíquicas que causam estes desconfortos seria necessária e foi objeto de pesquisa da autora durante várioa anos.

O trabalho envolve a identificação não somente das atitudes do mestre em sala, mas também dos motivos, principalmente de ordem emocional, como ansiedade, medo ou satisfação que determinam tais atitudes. Para a autora, esse profissional cria uma imagem a si e aos seus launos, por exemplo, de competência, segurança etc., que, gerando um certo equilíbrio psíquico, torna-se difícil de ser modificada, mesmo que se assim o fosse, diminuísse as tensões internas do professor. Lidar com estes objetos, que podem ser tomados como pertencentes à ordem do inconsciente, leva a uma modificação interna do sujeito e à descoberta de si e de suas relações com a fantasia.

As emoções
As emoções são respostas organizadas, além da fronteira dos sistemas pedagógicos, incluindo o fisiológico, o cognitivo, o motivacional e o sistema experimental. Surgem como resposta a um acontecimento interno ou externo, que possui uma carga de significados positivo ou negativo para o indivíduo.

As crenças dos alunos e professores sobre o papel que cada um desempenha na estruturação da realidade social da sala de aula - dentro da qual se ensina e se aprende - dão consistência ao significado dos atos emocionais. (CHACÓN, 2003)

O significado do afeto
Os aspectos mais destacados que se referem ás conseqüências dos afetos são:o impacto que existe em como os alunos aprendem e utilizam a Matemática. Os afetos determinan os aspectos pessoais em que funcionam os recursos, as estratégias e o controle ao trabalhar as tarefas matemáticas;a influência na estrutura do autoconceito como aprendiz da Matemática;as interações produzidas com os sistema cognitivo;a influência na estruturação da realidade social da sala de aula;o obstáculo que representa para um aprendiz eficaz. Os alunos que possuem crenças rígidas e negativas sobre a Matemática e sua aprendizagem são, em geral, aprendizes passivos e trabalham mais memória do que compreensão.

Para CHACÓN (2003), a relação que se estabelece entre afetos - crenças atitudes e emoções - a aprendizagem é cíclica: por um lado, a experiência do estudante ao aprender Matemática provoca diferentes reações e influi na fromação de crenças. Por outro, as crenças defendidas pelo sujeito têm conseqüência direta em seu comportamento, em situações de aprendizagem e em sua capacidade de aprender.


O ensino de Matemática não está alheia às concepções sobre o que é o conhecimento matemático; muitas idéias sobre esta disciplina baseiam-se nas diferentes visões da filosofia da Matemática. Por isso, cabe aos professores confrontarem-se com as próprias visões que têm da Matemática e que, sem dúvida, influenciam as práticas de ensino.

Extraído do Fundamentos Teóricos do Pensamento Matemática - Magna Natália Martin Pires - Curitiba Ed. Iesde, 2005. pg.139 a 142.

Dica de Leitura: Matemática Emocional: os afetos na aprendizagem matemática. nes Maria Gomes Chacón. Ed. Artmed, 2003

Um comentário:

  1. Olá amiga querida!
    Passando para repassar o um selinho que está nessa postagem:
    http://mylovelyrecursos.blogspot.com/2010/07/selo-premio-sunshine-award.html
    Boa 6ª feira!
    Beijinhos, Joana Neves
    http://joana-neves.blogspot.com

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